Kim Jiyoung, nascida em 1983 é um livro da escritora coreana Cho Nam-Joo.
Olá, Sonhadores! A resenha de hoje é de mais um livro que li em um Clube de Leitura. O que significa que consigo trazer muito mais tópicos para discutirmos aqui. Apesar de ser um livro relativamente curto, ele aborda diversos pontos que são muito necessários serem discutidos e que gerou muita indignação nos leitores.
“Jiyoung cresceu ouvindo que deveria ser cuidadosa, se vestir de modo conservador, agir como uma ‘moçinha’. Que era responsabilidade dela evitar lugares, horários e pessoas perigosas. Que a culpa era dela por não perceber isso e não evitar.”
Sobre o Livro “Kim Jiyoung, Nascida em 1982”
O livro conta sobre uma sul-coreana chama Kim Jiyoung que vem tendo episódios com comportamentos muito estranhos, como se estivesse “possuída” por outra pessoa. Seu marido, sem saber como lidar com isso, a leva para um psicólogo. A partir daí temos toda a vida de Kim narrada desde o momento em que nasceu.
A medida que Kim vai crescendo, o livro nos mostra eventos de sua vida que foram formando seu carácter e moldando seu psicológico até chegar no difícil momento atual. Só que além disso, todos esses eventos são contextualizados na Coréia do Sul dos anos 80 e 90 e mostram muito como era (e ainda é em alguns aspectos) a cultura do país, especialmente em relação as mulheres.
Durante a narrativa, a autora também nos apresenta a algumas informações e estatísticas relacionadas ao assunto do capítulo, dando uma certa credibilidade a ficção, mas sem atrapalhar o fluxo narrativo.

Outros livros que podem te interessar:
- As Mães – Martha Hall Kelly
- Os Abismos – Pilar Quintana
- A Filha Perdida – Elena Ferrante
- A Paixão Segundo G.H. – Clarice Lispector
- Ponti – Sharlene Teo
Minha Opinião
Em cada fase da vida de Kim nos deparamos com situações muito, MUITO, indignantes. Se para eu que sou homem já foi, imagino para as leitoras mulheres! Essas situações vão desde o machismo que também é bem comum aqui no Brasil como, por exemplo, achar que mulheres não são capazes de certas coisas ou que elas servem apenas para se casar e procriar, servindo ao marido e a família, até costumes da cultura do país, como o fato de as filhas serem basicamente servas dos filhos, a ponto de eles terem prioridade em absolutamente tudo e elas serem obrigadas a trabalhar para sustenta-los durante seu processo de formação profissional. E só depois que eles estiverem com a vida encaminhada é que elas podem pensar na vida delas que, obviamente, vai restar apenas a opção de encontrar um marido que a sustente.
Isso é tão chocante, mas mais chocante ainda é quem defende esse costume. Pode parecer muito conveniente que já que a menina ajudou o menino a se tornar um homem, então agora ele é quem deve trabalhar e sustentar essa mulher. Só que NÃO! Primeiro que ela vai ter tanto trabalho o resto da vida dentro de casa quanto o marido tem fora. Mas, pior que isso, é a total falta de liberdade que ela teve de não poder fazer o que queria, se limitando a seguir esses costumes até ser tarde demais para conseguir outra opção. Afinal, é claro que também não há as mesmas oportunidades para ambos. E quando uma mulher consegue um trabalho, ainda tem toda a questão da gravidez, do afastamento e da cobrança da família e da sociedade para esse papel de mãe.
Minha única questão com o livro em si foi o trucão que a autora fez ao nos instigar no início da história. Ela usou a condição mental de Kim para nos fazer ler curiosíssimos para entender melhor o que está acontecendo, mas, no fim das contas, apenas sabemos a trajetória que a levou até esse momento, de resto fica no ar. Não que o livro não tenha um final satisfatório, pois tem sim. Inclusive fecha muito bem. Mas acaba deixando esse gostinho de “ficou faltando algo”.
Para mim, o livro foi um misto de Ponti e Os Abismos, livros que falam sobre mulheres, sobre maternidade e contextualizam isso em seus respectivos países. Em algum momento nos últimos anos você deve ter percebido o aumento da popularidade da Coréia do Sul em relação ao mundo e isso nos faz querer saber mais sobre o lugar. Então, com certeza, é uma obra que vale muito a pena ler para nos mostrar que nem tudo lá é tão bom quanto parece.
Avaliação
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Kim Jiyoung, nascida em 1982
Cho Nam-Joo
ISBN: 978-65-556-0492-4
2022 – Intrínseca
176 páginas
Português (Brasil)
Sinopse
Em um pequeno apartamento nos arredores da frenética Seul vive Kim Jiyoung. Uma millennial comum, Jiyoung largou seu emprego em uma agência de marketing para cuidar da filha recém-nascida em tempo integral ― como se espera de tantas mulheres coreanas. Mas, em pouco tempo, ela começa a apresentar sintomas estranhos, que preocupam o marido e os sogros: Jiyoung personifica vozes de outras mulheres conhecidas ― vivas e mortas. A estranheza de seu comportamento cresce na mesma proporção que a frustração do marido, que acaba aconselhando a esposa a se consultar com um psiquiatra.
Toda a sua trajetória é, então, contada ao médico. Nascida em 1982 e com o nome mais comum entre as meninas coreanas, Kim Jiyoung rapidamente se dá conta de como é desfavorecida frente ao irmão mimado. Seu comportamento sempre é vigiado e cobrado pelos homens ao seu redor: desde os professores do ensino fundamental, que impõem uniformes rígidos às meninas, até os colegas de trabalho, que instalam uma câmera escondida no banheiro feminino para postar fotos íntimas das mulheres em sites pornográficos. Aos olhos do pai, é culpa de Jiyoung que os homens a assediem; aos olhos do marido, é dever dela abandonar a carreira para cuidar da casa e da filha.
A vida dolorosamente comum de Kim Jiyoung vai contra os avanços da Coreia do Sul, uma vez que o país abandona as políticas de controle de natalidade e “planejamento familiar” ― que privilegiava o nascimento de meninos ― e aprova uma nova legislação contra a discriminação de gênero. Diante de tudo isso, será que seu psiquiatra pode curá-la ou sequer descobrir o que realmente a aflige? Best-seller internacional, Kim Jiyoung, nascida em 1982 é uma obra poderosa e contemporânea que não só atinge o âmago da individualidade feminina, como também questiona o papel da mulher em âmbito universal.
Ótima resenha, Lucas
Concordo com você.
Este livro é muito incômodo, difícil aceitar as disparidades que acontecem ainda nos dias de hoje.
Gostei muito que vc citou Ponti e Os Abismos, dois livros que eu adorei.
Beijos
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Obrigado! Resta esperar pelo melhor e que a Coreia do Sul consiga avançar nessas pautas.
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