Vou Sumir Quando a Vela se Apagar é o romance de estreia de Diogo Bercito.
Olá, Sonhadores! Se tem uma coisa que aprendi com a experiência de leitura foi que nos livros mais inesperados podem estar as histórias que mais vou gostar. É o caso do livro de hoje que eu li no clube de leitura que participo e não estava criando expectativa nenhuma. Porém, fui muito surpreendido e hoje vou falar um pouco mais sobre isso!
Sobre o Livro “Vou Sumir Quando a Vela se Apagar”
O livro conta a história de Yacub, um jovem rapaz que vivia numa zona pobre e rural da Síria exercendo tarefas junto com seu melhor amigo Burtus. Eles tinham uma grande e profunda amizade, mas para Yacub isso ia um pouco mais além. Com uma certa dose de inconsciência e ingenuidade, ele era apaixonado pelo melhor amigo.
Porém o mundo de Yacub começa a desabar aos poucos quando Burtus revela que tem o desejo de ir embora para o Brasil em busca de uma vida mais digna. A história se passa nos anos 20 onde houve uma forte imigração sírio-libanesa para o Brasil, Se espalhava a notícia de que o país era uma fonte de riquezas e oportunidades. Muitos parentes e conhecidos mandavam cartas contando sobre como o Brasil era um lugar maravilhoso e como tinham conseguido ser bem sucedidos aqui.
Yacub nunca teve a pretensão de sair da Síria, por mais que tivesse uma vida simples, era feliz ali. Inclusive considerava as pessoas que foram embora como “traidores da pátria”. Mas ao mesmo tempo, era inaceitável o fato dele se separar de Burtus. Durante os dias que se sucederam, Yacub precisava fazer uma escolha muito difícil, mas o destino resolveu tornar as coisas mais difíceis ainda para o rapaz.
Esses parágrafos contam muito pouco, pois são só o início do início da trama. Não quero dar nenhum spoiler porque cada acontecimento é muito marcante e vale a pena ser experenciado na leitura em si.

Minha Opinião
Que texto bonito e que escrita perfeita! Cada dia mais eu chego na conclusão (talvez óbvia) de que livros escritos originalmente em português tem muito mais potencial de ter excelência na escrita do que traduções. Além disso, o autor é jornalista, que já lhe dá uma vantagem de saber escrever bem.
Eu realmente não esperava que fosse uma história tão tocante e sensível. Provavelmente pelo fato de eu ser um público-alvo e me identificar com a maior facilidade com o protagonista, eu pude sentir e sofrer com tudo o que foi acontecendo com ele.
Não posso esquecer também de mencionar que ao longo da narrativa o autor explora e mostra bastante da cultura árabe. Suas superstições, alimentação, comportamentos e especialmente sobre como era o processo de imigração e adaptação dessas pessoas quando vinham para o Brasil. Pois todas aquelas notícias de que aqui era o paraíso não eram necessariamente verdade. O autor tem uma grande experiência com o tema como jornalista e isso ajudou muito a produzir algo bem realista e detalhado.
Outros livros que podem te interessar:
- Tipo Uma História de Amor – Abdi Nazemian
- Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo – Benjamin Alire Sáenz
- Dois Garotos se Beijando – David Levithan
- Os Prós e Contras de Nunca Esquecer – Val Emmich
- Quinze Dias – Vitor Martins
Só teve uma coisa que não gostei referente ao final. Depois de tudo o que aconteceu acho que fez muito sentido como tudo terminou, mas definitivamente não foi o que eu gostaria como leitor. Mas o problema mesmo foi a forma com que terminou, o autor usou de realismo mágico que é uma coisa que, para mim, é difícil de engolir. Não que eu não goste, mas é algo bem difícil de me agradar quando é usado.
Durante o clube, o autor participou um pouco e conversou com a gente sobre o processo de produção do livro. Tirando nossas dúvidas sobre a história e ouvindo nossas opiniões. Ele foi muito agradável e espero que tenha ficado feliz com o feedback.
É engraçado como tudo parece ser destinado mesmo. Quase sempre eu compro ebooks dos livros que leio para o clube, pois não sou eu que escolho e nunca sei se a história vai me agradar. Porém, dessa vez eu comprei o livro físico porque um dia passei numa livraria, vi que o preço estava bom e decidi comprar. E eis que se tornou um dos meus favoritos desse ano!
Recomendo para todo mundo, mas especialmente para o público gay que vai se identificar muito como eu. Quem também se interessa pela cultura árabe e/ou gosta de um toque de realismo mágico também vai amar.
Avaliação
Se interessou? Compre este livro pelo meu link da Amazon e apoie o blog!

Vou Sumir Quando a Vela se Apagar
Diogo Bercito
ISBN: 978-65-556-0419-1
2022 – Intrínseca
216 páginas
Português (Brasil)
Sinopse
Em seu romance de estreia, Diogo Bercito narra uma emocionante história de amor e autodescoberta ambientada no início dos anos 1930.
Yacub passa os dias na companhia de Butrus no vilarejo da Síria onde vivem. Os dois são inseparáveis e se deixam encostar casualmente enquanto colhem folhas de uva ou fumam no gramado, mas uma agonia crescente toma conta de Yacub quando essa proximidade é ameaçada. Butrus recebera um convite do tio para emigrar para o Brasil e aproveitar as muitas oportunidades de um futuro próspero no país. A perspectiva do distanciamento não é forte o suficiente para que os dois verbalizem seus sentimentos, mas permite que finalmente se toquem. O ato consumado, no entanto, é seguido de uma tragédia. O que para os médicos é cólera, para Yacub é a ação do lendário que habita o poço de uma casa abandonada, que estava aberto quando os jovens cederam aos seus desejos.
Esse é o ponto de virada da narrativa, que passa então a ter como cenário a vibrante São Paulo do início da década de 1930, uma cidade em transformação, ponto de atração de pessoas de diferentes partes do mundo. Em um ambiente marcado pela vontade de se estabelecer e pela infinidade de possíveis futuros, o passado cisma em se fazer presente para o imigrante, que começa a ter sonhos cada vez mais vívidos tendo o como figura persecutória.
Em seu romance de estreia, Diogo Bercito narra com delicadeza e admirável domínio da escrita uma história na qual o que não está dito salta aos olhos a cada página. Vou sumir quando a vela se apagar trata de afetos, com um protagonista que tem no diálogo constante com o a expressão de seus medos e o impulso da fuga de si. Uma trama atemporal, sobre as dificuldades de lidar com os desejos e a capacidade de tomar para si o próprio destino.