O Canto da Cigarra - Noite

O Canto da Cigarra – Parte 3 – Noite

Olá, Sonhadores! Bem-vindo a terceira parte do meu conto! Caso tenha caído aqui de paraquedas e não leu ainda as primeiras partes clique nos links: Parte 1 – Manhã e Parte 2 – Tarde. Boa leitura!


— São 20:00 horas, todos sabem o plano? – Perguntou Eduardo.

Leo, Denise e Eduardo passaram o resto da tarde preparando o plano para a festa. O objetivo era descobrir o que a Ordem da Azaleia Negra iria fazer e conseguir o máximo de informações sobre eles. Se acontecesse realmente uma ilusão em massa, eles estavam preparados. Graças as fantasias antigas que a Sra. Zenaide guardava no porão da hospedaria, eles conseguiram um disfarce perfeito para ir à festa com máscaras que cobriam uma verdadeira máscara de respiração por baixo.

As máscaras respiratórias eram de Eduardo, o que causou uma grande crise dentro do grupo. Leo estava cada vez mais convicto que Eduardo não estava contando toda a verdade. “Por que um turista carregaria máscaras de respiração por aí?”, pensou ele. Foi então que Leo prensou o rapaz contra a parede e o fez confessar. Denise por um segundo tentou impedir a agressividade do amigo, mas antes que pudesse ajudar, Eduardo disse que estava tudo bem, confessaria. Ele afirmou ser membro de um grupo internacional de controle de pragas. Recebeu informações que as cigarras dessa região estavam se multiplicando mais que o normal, e foi enviado para cá para investigar. Era para isso que as máscaras e todos os outros equipamentos que Leo viu no quarto dele serviam. Leo e Denise continuaram achando essa história esquisita. Nunca ouviram falar em grupo internacional de controle de pragas. Porém, pelo que analisaram, os equipamentos de Eduardo correspondiam as atividades que ele dizia realizar. Haviam redes, repelentes, caixas e vários outros objetos para captura de insetos.

Mesmo assim, ainda haviam alguns furos nessa história, que Eduardo conseguiu se justificar. Denise perguntou por que ele não contou antes. A resposta foi que se tratava de um trabalho sigiloso, pois se houvessem pessoas envolvidas, seria arriscado declarar que ele estava se metendo, o que era justamente o caso agora. Leo questionou sobre as cigarras, afirmando que não houve notícias de superpopulação de cigarras na região. Eduardo respondeu que, se for como eles disseram, que as pessoas mais influentes da cidade estão envolvidas nisso, certamente eles tentariam abafar o caso. Não haviam mais argumentos, Leo e Denise foram convencidos. Neste momento, até o Delegado Robson parecia suspeito, deixando a festa de Halloween acontecer e ordenando sigilo sobre a morte do padre.

— Sim, sabemos o plano, apesar de eu detestar a minha fantasia – afirmou Leo.

Ele estava vestido de palhaço. A máscara de respiração foi camuflada por outra com dentes assustadores. Denise, por outro lado, estava muito satisfeita. Ela vestia uma fantasia de ninja que cobria todo o seu corpo, inclusive o rosto, deixando apenas os olhos visíveis. “Ninguém nem vai saber que sou eu, é PERFEITA”, pensava ela. E por fim, Eduardo foi vestido de cavaleiro assombrado, o elmo da armadura escondia a sua máscara.

O plano era ir à festa e observar. Talvez algo acontecesse exatamente a meia-noite ou talvez não. Neste caso eles ficariam lá até todos irem embora.

Ao saírem da hospedaria, o grupo se deparou com um tumulto. Billy e seus pais estavam agitados fazendo o check out para irem embora. A Sra. Zenaide insistia para que eles ficassem e fossem para a festa. “Seria um desperdício de viagem! ”, afirmava ela sem nem perceber que falava em português com eles. O casal de idosos, Daisy e Rowan, estavam no saguão da hospedaria observando. Eles vestiam fantasias de bruxos que os deixavam adoráveis juntos.

— Leo! Denise! Acompanhem Mr. Leak e sua esposa para a festa de Halloween, por favor. Preciso resolver o check out desses rapazes, misericórdia.

Antes que eles pudessem responder, a Sra. Zenaide já havia empurrado todos para fora da hospedaria. Os cinco foram andando até o evento. Infelizmente não se podia manter uma conversa por causa de todas as máscaras, então houve um clima constrangedor entre eles. Porém, não durou muito. Ao chegarem, os três acabaram se separando do casal e começaram a observar a festa.

Não havia nada de anormal. Inclusive não havia nada de muito diferente do Halloween do ano passado. Flores, em especial azaleias, foram espalhadas por todos os totens e árvores do bosque. Luzes escuras por trás dos ramos faziam as pétalas se destacarem em um lilás fantasmagórico. As barracas vendiam os mais exóticos alimentos e bebidas temáticas. Ao fundo, as cigarras cantavam incessantemente. A Sra. Zenaide disse que o prefeito prepararia algo especial este ano. “Será que tinha alguma coisa a ver com a Azaleia Negra? ”, pensou Leo. Haviam muitas pessoas, porém muito menos que no ano anterior. “Será que os boatos se espalharam e as pessoas estão com medo das cigarras? ”, suspeitava Denise.

A meia-noite estava próxima e nada extraordinário havia acontecido. O grupo se dividiu algumas vezes para não chamar a atenção, e procurar por qualquer coisa suspeita em volta da festa. Uma mistura de desapontamento e ansiedade tomava conta dos três. A menos de cinco minutos para a meia-noite, o prefeito Lourenço se apresentou em meio as pessoas. Subiu em um pequeno palanque ao lado do grande caldeirão e anunciou que em alguns minutos uma grande surpresa jamais vista em nenhum Halloween da cidade de Azaleia aconteceria.

O segundo de silêncio após essa declaração foi quebrado por murmúrios. Todos pareciam muito curiosos sobre o que estava por vir. O som das cigarras estava cada vez mais alto, o falatório começou a competir no volume. Era necessário falar cada vez mais alto para que alguém pudesse te ouvir. Chegou meia-noite. Leo, Denise e Eduardo olharam para todos os lados em busca de alguma evidência. O prefeito subiu novamente no palanque, animado.

— Senhoras e senhores, apreciem o show – disse ele se retirando com um sorriso perverso.

Aos poucos, uma névoa púrpura começou a sair de dentro do bosque e cercar toda a festa. As pessoas observavam-na se aproximar com as mais diversas reações. Alguns soltavam gritinhos apavorados enquanto outros estavam admirados. O prefeito realmente estava prestes a marcar história no Halloween da cidade, pensavam alguns. Porém, Leo, Denise e Eduardo sabiam o que estava acontecendo. A névoa com certeza continha pólen da Azaleia Negra, e todos estavam prestes a cair na maior ilusão da história.

Antes que a névoa se aproximasse o suficiente das pessoas, a canção das cigarras tomou proporções inimagináveis. Centenas, milhares de cigarras apareceram voando em um enxame em volta da neblina. A velocidade com que voavam era surpreendente. Todos olhavam em choque para elas, pensando sobre o que iria acontecer. Pois não havia como fugir, a névoa cercava todos os lados e passar por ela tinha um risco de ser pego pelas cigarras. O barulho era ensurdecedor. Algumas pessoas próximas das bordas correram para o centro da clareira.

Aos poucos, as pessoas foram percebendo o que acontecia. O enxame de cigarras voava pela névoa tão intensamente que começou a dissipa-la. Era como se salvassem as pessoas de um perigo que elas mesmas desconheciam.

— Elas estão nos ajudando!? – Gritou Eduardo removendo seu elmo e sua máscara.

Aplausos e assovios soaram por toda a parte. Todas pessoas, tanto moradores quanto turistas, estavam maravilhados. Nem todas, na verdade. Leo observou que algumas pessoas pareciam abaladas com o acontecido. Guardou na memória cada uma delas, não havia dúvidas que eram membros da Azaleia Negra.

As cigarras terminavam de dispersar a névoa em um voo de enxame sincronizado. Quando não havia mais um resquício de pólen no ar, elas partiram em direção ao meio do bosque. O prefeito, que era uma das pessoas que estavam abaladas, parecia não saber o que fazer. Trocou algumas palavras com o delegado Robson e subiu ao palanque novamente, perguntando animadamente se todos gostaram da apresentação especial. Enquanto as pessoas estavam distraídas com o prefeito, o delegado partiu sutilmente em direção ao bosque.

— O delegado! Ele está indo em direção as cigarras, temos que o seguir! – Desta vez foi Leo quem removeu sua máscara para anunciar a fuga do delegado.

Ele, Denise e Eduardo também partiram em direção ao bosque, evitando que as pessoas percebessem. Encontravam o delegado a frente deles algumas vezes e depois perdiam novamente o rastro. Até que chegou um momento que ele desapareceu totalmente.

— Para onde ele foi? Estamos perdidos, eu não faço ideia do caminho que temos que seguir – disse Leo.

— Exatamente, vocês não vão a lugar nenhum. O que estão fazendo aqui? – Disse o delegado Robson surgindo por trás deles apontando uma pistola.

— Eu…

— Calada! – O delegado interrompeu Denise – Ergam as mãos, agora! Eu disse para vocês manterem sigilo, não deveriam ter se metido nessa história. Vocês não sabem com o que estão lidando. Voltem agora para a festa e não digam uma palavra sobre terem me visto aqui.

Os três se viraram lentamente. Denise tentou conter a surpresa com o que viu. Um casal simpático de bruxinhos apontava uma arma cada um para o delegado.

— Put the gun on the floor, now – disse Rowan, mas o delegado ficou imóvel.

— Put the gun down and don’t let me explode your brain, you fucking asshole – Daisy foi mais convincente e o delegado Robson soltou a arma.

A pequena senhora pegou a arma enquanto Rowan amarrou o delegado em uma árvore com a ajuda de Leo. O velho agradeceu e disse para os jovens voltarem para a festa, não era seguro ficar ali. Denise e Eduardo que falavam melhor inglês convenceram o casal a deixarem eles os acompanharem, desde que não se metessem no caminho.

O grupo continuou em meio a floresta, que ficava cada vez mais densa. Já não se ouvia mais a festa por onde eles se embrenhavam. Depois de alguns minutos eles chegaram numa clareira. Um velho com uma manta negra estava sentado no meio, observando atentamente flores de azaleias negras que brotavam em volta de um pequeno buraco negro que se formava no chão. O velho percebeu a presença deles e ergueu a cabeça, era o padre Luís.

Continua…

Neste mês de Agosto de 2021 estou fazendo o BEDA com postagens diárias aqui nesses 31 dias! Se você gostou do conteúdo não deixe de curtir e seguir o blog para receber notificações quando sair coisas novas e também me segue no Instagram para interagir comigo lá: @leitordossonhos!

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