O Canto da Cigarra - Manhã

O Canto da Cigarra – Parte 1 – Manhã

Olá, Sonhadores! Pela primeira vez eu vou postar um história de minha autoria na internet! Este é um conto que eu escrevi no Halloween de 2017 (se não me engano) para praticar minha escrita, desenvolver meu estilo e ver como eu me sairia escrevendo minha própria história. Apesar de ser um conto, ele é dividido em 4 partes (Manhã, Tarde, Noite e Madrugada) e postarei uma parte por domingo durante o BEDA. Trago hoje a parte da Manhã com o início de tudo e espero que vocês gostem! Apenas amigos muito próximos meus já leram, então eu adoraria saber a opinião de vocês sobre ela! Infelizmente eu não consegui me dedicar a escrever mais nada desde então, mas quem sabe postar esse conto agora me inspire a voltar a escrever!


07:00


“Ah, que droga!”, reclamou Leo já cedo. O rapaz vestia as botas pretas, pretas como todas suas outras peças de roupa, e percebeu que havia um buraco na bota do pé esquerdo. “Foda-se!”, concluiu ele pegando as chaves. Estava atrasado, devia estar na hospedaria as sete horas e ainda nem saíra de casa.

Leo andou o mais rápido que pode, mas jamais a ponto de correr. Para ele era uma vergonha correr por aí, destruiria sua reputação gótica perante a comunidade de Azaleia. Tal atitude o fez chegar quinze minutos atrasado e ouvir uma bronca da Sra. Zenaide.

— Moleque! Meus hospedes estão ficando irritados com a demora, isso vai lhe custar 10% do seu pagamento.

Leo estava desempregado e precisava desse dinheiro. Foi contratado pela Sra. Zenaide, dona da maior hospedaria da cidade, para guiar os turistas em um passeio.

A cidade de Azaleia era famosa por organizar o maior evento de Halloween de todo o hemisfério sul do planeta. A decoração assombrosa, misturada com a ambientação primaveril, gerava uma combinação que não se via em nenhum outro Halloween do mundo.

— As pessoas que você vai levar são aquelas no grupinho ali na frente. Vou te introduzir e faça conforme combinamos! A Denise, diferente de você, chegou na hora certa e já saiu com o outro grupo. Agora vamos logo! – Disse a mulher.

Denise era a melhor amiga de Leo, dois anos mais velha, porém tão gótica quanto ele. Ambos adoravam a festa de Halloween de Azaleia, era o único evento na cidade que se sentiam parte.

Eles se aproximaram dos turistas e Sra. Zenaide falou pomposa:

— Good Morning everyone! Leo is here to guide you around the town.

Leo congelou. Ninguém o tinha avisado que os turistas eram estrangeiros. Ele não sabia inglês tão bem a ponto de conseguir se comunicar e muito menos guia-los pela cidade. Agora teria que se virar, não podia dizer a Sra. Zenaide que não poderia fazer isso. Precisava de um plano, e o plano que tinha até o momento era dizer menos coisas possíveis.

— Hi – disse ele seguindo o plano.

— Have a nice tour! – Gritou a Sra. Zenaide, enquanto Leo e o grupo iam se distanciando.

O passeio combinado com a Sra. Zenaide consistia em três pontos. Primeiramente, uma caminhada em frente ao bosque, que estaria fechado até a noite, sendo preparado para a festa de Halloween. Depois, o grupo iria até a praça central da cidade visitar a Catedral de Santo André. E por fim, Leo conduziria todos até o centro da cidade, onde os deixariam fazendo compras. Quando chegasse meio-dia, deveria traze-los de volta a hospedaria para almoçarem. Depois disso estaria livre. “O que poderia dar errado nessas próximas cinco horas?”, pensou Leo.

Enquanto Leo e o grupo de turistas iam andando em silêncio, o rapaz os observava. Haviam cinco pessoas, um casal de idosos, um casal gay e um menino pequeno que Leo percebeu ser filho deles. O silêncio já estava começando a gerar um clima pesado entre eles, Leo resolveu se arriscar e perguntar seus nomes.

— How is your name? – Disse ele forçando um sorriso e não se dirigindo a ninguém em especifico. Houve um breve silêncio combinado com uma troca de olhares.

— How? Daddy, how is my name? – Perguntou o menino confuso a um dos pais.

— My name is Daisy – respondeu a velhinha com uma risadinha simpática.

— I think he is asking what’s your name, Billy – respondeu o pai do garoto dando risada.

— Oh, my name is Billy – o menino respondeu virando-se para Leo com um grande sorriso.

— I’m sorry for my english – disse Leo extremamente envergonhado.

Os outros membros do grupo também se apresentaram. O velho, marido de Daisy, se chamava Rowan. O casal de gays se chamavam Jonas e Harrison. Apesar dessa cena, o clima entre o grupo melhorou e todos se sentiam mais à vontade. Rowan comentou discretamente com a esposa que o guia certamente não iria os conduzir direito, mas ela o acalmou dizendo que ficaria tudo bem.

Ao se aproximarem do bosque, eles viram uma grande clareira cercada por árvores muito altas. Várias barracas sinistras feitas de retalhos de tecidos já estavam montadas em volta. No centro estava sendo preparada uma fogueira com um grande caldeirão em cima. Totens com formatos de caveiras e besouros gigantes estavam sendo espalhados. Mas o grande detalhe especial, que dava a festa de Halloween de Azaleia sua grande fama, eram as decorações de primavera. Flores lilases de azaleia foram usadas na decoração por toda parte, nas árvores, nas barracas, nos totens. Os turistas olharam admirados e fizeram alguns comentários entre si. Leo deveria dizer que o evento a noite seria neste local, mas ele não conseguiu formular a frase direito e não estava a fim de passar outra vergonha.

Antes de chegarem até o final do horto, o grupo foi parado por Billy, que vinha correndo com algo na mão.

— Daddies! Look at this – disse ele abrindo as mãos e mostrando um grande e gordo inseto a todos. Jonas e Sra. Daisy deram um gritinho sincronizado.

— What kind of bug is it? – Harrison virou-se perguntando a Leo.

Leo ficou um tempo tentando entender qual foi a pergunta, mas seu raciocínio foi interrompido pelo velho Rowan:

— How is the name? – Disse ele lenta e sarcasticamente.

— Cigarra. – Leo respondeu apático por fora para manter sua seriedade gótica, enquanto por dentro mal podia conter sua alegria por conseguir entender a pergunta.

Todos riram, menos Billy. Algo parecia perturbar o garoto que olhava fixamente para o inseto. Leo olhou mais de perto e percebeu que a cigarra estava morta. O menino colocou o inseto na grama por ordem de Jonas, que ao mesmo tempo parecia dar uma bronca sobre não pegar coisas do chão.

Leo pensava sobre a cigarra enquanto continuavam. Aquele inseto era algo tão comum que ele nunca lhe dera muita atenção. Sentiu um arrepio ao lembrar da criatura morta e seca nas mãos de Billy. Geralmente as cigarras ficavam nas árvores, e não apareciam nas casas como baratas, por exemplo. Todos só se davam conta da sua existência quando as ouviam cantar no final da tarde. “Provavelmente não existe esse inseto no pais de onde esses turistas vieram, por isso não o conheciam”, concluiu Leo. O grupo andou por mais alguns minutos e pouco depois das oito horas chegaram na Catedral de Santo André.

Algo errado estava acontecendo. Leo viu o corpo alto e esquelético de Denise em frente a igreja com o outro grupo, porém haviam alguns carros de polícia em volta e uma ambulância acabara de chegar. Leo foi até a amiga para saber o que estava acontecendo e os turistas seguiram-no.

— Dê, o que aconteceu?

— Leo! Você jamais acreditaria! – Disse ela com brilho nos olhos tonificados pela maquiagem escura pesada – O Padre Luís está morto! Haviam cigarras por todos os lados, e foram elas, Leo! As cigarras o mataram, eu vi.

— O que? – Respondeu ele perplexo. – Como assim?

Antes que ela pudesse responder, um grupo de enfermeiros saiu da igreja descendo uma grande escadaria, enquanto carregavam uma maca coberta. Logo atrás deles o delegado Robson saiu também, segurando um pote de vidro. Ele deu um comando para os policiais trancarem a igreja e ficarem de guarda. Desceu as escadas também e foi em direção a Denise.

— Vamos manter a igreja fechada. Recolhemos uma cigarra para enviar para análise, mas infelizmente não temos como saber se essa era aquela cigarra. Creio que se uma poderia nos dar uma pista, as outras também podem.

— Mas o que aconteceu aqui? – Perguntou novamente Leo.

Os turistas começaram a conversar entre si. Muitas pessoas percebendo o tumulto chegaram perto para saber o que havia acontecido. O delegado Robson, ignorando a pergunta de Leo, pediu a Denise e ao grupo de turistas que ela estava responsável para se dirigirem a delegacia registrar o ocorrido. Antes que a situação saísse de controle, o delegado gritou a todos que a polícia já estava cuidando do caso e os fez circularem.

— O evento vai ser cancelado? – Perguntou uma turista do grupo de Denise, preocupada.

— Não – respondeu Robson – não podemos atrapalhar um evento tão importante para a cidade. Vamos manter o caso em sigilo até amanhã. Por favor, peço a colaboração de todos para não espalharem o que viram!

Leo estava em choque. Neste curto tempo em que o delegado afastava as pessoas, Denise lhe contou tudo. Segundo o combinado com a Sra. Zenaide, o Padre Luís estaria aguardando a chegada dos turistas para conhecerem a catedral. Assim que Denise e seu grupo chegaram na igreja, eles entraram e se depararam com o padre caído no altar, seu rosto estava solidificado em uma expressão de choque, com a boca fechada e os olhos arregalados. Estava morto.

Um rapaz do grupo de turistas correu em direção a rua para procurar por um guarda. Uma mulher deu um grito estridente e todos se viraram para ela. Uma cigarra pousara em sua cabeça. A mulher se esbofeteou e fez a cigarra voar longe. Ao olharem para cima, repararam que haviam dezenas de cigarras espalhadas por todo o interior da igreja. A mulher e o resto dos turistas correram para fora no mesmo momento que o rapaz voltava com um policial e o delegado Robson.

Denise explicava para eles a situação, enquanto o delegado examinava o corpo. No momento em que ele abriu a boca do cadáver, uma enorme cigarra saiu voando disparada de dentro de sua garganta. O delegado Robson caiu para trás com o susto. Até Denise, que estava empolgada com aquela situação misteriosa, gritou. Eles perderam a cigarra de vista ao se juntar as outras, que começaram a voar de um lado para o outro, cantando suas vibrantes melodias que ecoavam por dentro da igreja cada vez mais alto. Todos correram o mais rápido possível para fora, saindo em meio a uma nuvem de cigarras, que desapareceram pelo céu.

As pessoas que estavam fora da igreja correram para socorrer os quatro. Denise e o policial estavam ofegantes. O delegado se levantou, pedindo para alguém chamar uma ambulância. O rapaz que havia buscado ajuda, se aproximou do delegado com as mãos fechadas. “Eu peguei uma”, disse ele.

— Logo depois disso, vocês e a ambulância apareceram – concluiu Denise.

— MANTENHAM SIGILO! – O Delegado Robson gritou ao perceber que Denise já havia espalhado a história a Leo.

— Ok! – Respondeu Denise com desdém e virou-se para Leo. – Vou para a delegacia com meu grupo e depois voltamos para a hospedaria. Me espere lá e durante a tarde você e eu vamos investigar isso. É a oportunidade que temos esperado, Leo – ela concluiu otimista.

Continua…

Neste mês de Agosto de 2021 estou fazendo o BEDA com postagens diárias aqui nesses 31 dias! Se você gostou do conteúdo não deixe de curtir e seguir o blog para receber notificações quando sair coisas novas e também me segue no Instagram para interagir comigo lá: @leitordossonhos!

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